Quadras







Polima, 2005
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p´ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P´ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!


Às vezes penso que os fados (e a bossa nova de Chico Buarque e Vinícios de Moraes) são como sútras ("pílulas de sabedoria" - frases muito curtas que contêm grandes ensinamentos codensados e entendíveis apenas pelos iniciados). Dizem grandes verdades da vida em poucas palavras. É uma magia que admiro muito, eu que ainda não aprendi a ser muito sucinta.
Almoço a ouvir a belíssima voz do Camané e a letra... é do Fernando Pessoa :)
ps: com um beijinho para quem me emprestou as mãos e que também gosta muito do Camané ;)

5 comentários:

Virgínia disse...

:))
Fui apanhada!... nos gestos e nas palavras... e tu, sempre atenta. Sentar-me e ser inteiramente eu acontece raramente. Mas hei-de lá chegar :)

Um abraço daqui até aí. :)

menina madrugada disse...

hihihi não era para te apanhar, mas voilá, os fados são todos nossos. beijo grandeeeeeeeee aos 3 :)

Luísa Sargento disse...

ai o fado!!!!....

Anónimo disse...

Pessoa conhecia a linguagem do Petit Prince:
"Voici mon secret. Il est très simple: on ne voit bien qu'avec le cœur. L'essentiel est invisible pour les yeux."

A linguagem não verbal é insubstituível, pródiga e profunda, mas sei porém que é possível deixar o coração cantar o amor, e fazê-lo através da boca. Aliás Pessoa, como é costume, fê-lo: Deu Verbo ao que na maior parte de nós se vive calado. Deu expressão poemática ao que é nos homens poesia indefinida.

Cuida bem do meu amigo, sim?


P.

menina madrugada disse...

Que lindo. Obrigada por dares voz aos teus pensamentos aqui no blog também.
Um beijo bem grande.

Et pas de souci - il va bien et aime Paris dejá.